13 de julho de 2010

Gota Analfabeta

És uma palavra.
Não consigo ver-te,
De tão perto.
E não sei ler-te.
Mas estou certo:
És uma palavra.
Imagino-te
Numa frase importante.
No início.
Aprendiz,
Balbucio-te,
E dispo-te de sentidos.
Cubro-te dos meus.
Cego,
Adivinho-te.
E tremem-me os dedos
No tocar dos teus.
Abandonas reticências.
Aprendes-me a língua.
Traduzes-te,
E sigo-te à letra.
Estou perto.
Tento ler-te
E não deixas.
Fico, analfabeto,
Entre sílabas que fechas.
És outra!
És frase,
És todas as palavras.
És uma!
Soletro-te.
Repito-te.
E esqueço-te,
Não lida na minha praia,
Levada em mãos pela espuma.

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